Conexão Uberlândia

08/07/2016 17:35

 

Foi um daqueles convites de difícil recusa. O anfitrião tem habilidades persuasivas e a proposta era muito atrativa. Uma corrida inédita – para mim e para todos! – mais uma cidade, mais 42,2 km de histórias. A data era compatível com o resto do calendário de treinos, seria um ótimo longão. E assim, me inscrevi para correr a Maratona Nilson Lima, em Uberlândia.

A lista de mensagens pelo telefone aquece o pessoal nos dias antes da largada. Todos muito animados. Os horários de voo entre Rio e Uberlândia não são dos melhores nos fins de semana. E ainda preciso mudar de avião em São Paulo. Na troca de mensagens, fico sabendo que um então desconhecido Bruno – amigo da minha Bruna – perdeu o voo e decidiu seguir viagem de carro. Entre ida e volta, percorreu 1.208 km para correr os 21,1 com os amigos. Histórias como essa ilustram a paixão pela corrida, a camaradagem proporcionada pelo esporte. A mudança logística – do conforto aéreo para um rali solitário – transformou mais uma prova divertida numa lembrança eterna. Para ele e para os demais envolvidos.

No trecho inicial, Rio – São Paulo, leio “Leitura de Bordo”, livro que ganhei de presente do autor, um baiano que me conheceu através das histórias motivação, superação e diversão do meu Diário de um Corredor. Na primeira conexão, parada em Congonhas, um colega se apresenta nas mensagens e diz que será meu companheiro de voo. Era outro baiano escritor, este com currículo quase centenário de maratonas. Também reuniu suas aventuras esportivas pelo mundo em um livro, que trocamos junto com as experiências.

No destino final, um amigo do dono da festa nos recebe. “O nome dele é Majo, não é major!” destaca o Nilson, fazendo um trocadilho com o nome do grupo das mais famosas maratonas. Kit, hotel, queijo e doce de leite no mercado municipal e clube. Procurei aproveitar o máximo a minha breve estadia, sempre com o generoso suporte do cicerone. Depois do último pênalti entre Itália e Alemanha, sigo para o jantar de massas. Uberlândia sempre se mostra agradável e aconchegante.

Hora de conhecer outros colegas de prova e de esporte. O evento reunia uma elite de “malucos”, aquele especial elogio a um maratonista. Palpito que um pré-requisito não oficial para participar da maratona Nilson Lima é ter concluído a Comrades e ou os famosos 42,2 km de Boston! Bom, o único que conheci ali sem uma ou outra credencial tinha dois ironman no currículo!

Não penso homenagem maior a um maratonista que a realização de uma prova com seu nome. E o Nilson é um grande merecedor. Uma prova debutante, mas povoada de veteranos. O percurso era exigente, compatível com o histórico do dono da festa, do “noivo” como foi carinhosamente apelidado. Como eu não tinha meta de tempo final, ignorei previamente a altimetria. Ao ouvir que participaria da “prova mais difícil do Brasil” reajo com o desprezo característico dos ignorantes: “Ah... será mesmo? Acho que não...” A conferir!

Os 5 km iniciais são de descida. Um aquecimento para o desafio subsequente. Então subimos por longos 10 km. A inclinação é constante, positiva ou negativa. Uma cansa, outra machuca. O vento refresca, mas o sol queima. A paisagem se alterna entre bucólica e urbana. Adorei conhecer o belo Parque do Sabiá. Incluí-lo no percurso foi uma ótima opção. Mais algumas descidas e então uma longa subida me separa da bela medalha de conclusão. Estou bem e sigo firme. Mais uma maratona feita!

No caminho de casa, mais dois voos. Para fechar o ciclo, encontro o Amorim, experiente maratonista português-carioca, na companhia de quem conheci... o Nilson!, num restaurante pré-Comrades em Durban.

Tomo emprestada uma frase que um amigo usa para descrever os 42,2 km de Foz do Iguaçu: “uma maratona para quem gosta de maratonas!” Encaixa-se perfeitamente para descrever as aventuras em Uberlândia.