La pesadilla

26/06/2014 22:41

 

Estamos em 2064. Há exatos 100 anos, os generais tomaram de assalto o governo do país. Aqui, falo de outro golpe, consumado há 50 anos. Pois é, repetimos um sinistro ciclo no período de cinco décadas. O processo começou no dia 13 de julho de 2014. Naquela data, aconteceu a final Copa do Mundo de futebol e o país-sede foi o Brasil. Sim, aquele esporte não era apenas legalizado no Brasil, era muito popular. Os mais velhos dizem que era comum reunir os amigos para assistir aos jogos. Havia grandes estádios, que eram frequentados por milhares de torcedores.

A nova Ditadura não usa verde-oliva. Veste roupas pretas, com destaque para o rosto coberto por uma máscara. O primeiro decreto do novo governo black block foi banir o futebol da cultura brasileira. Os times foram extintos sumariamente. Apenas o Fluminense, através de recurso, conseguiu se manter. Argumentou que o parquinho e a piscina eram as principais atividades.

Se você não aprendeu isso na escola, não se culpe. Discutir História tornou-se mais polêmico que aquele jogo que reunia pé e bola. Existiam também vários jornais e revistas. Imagine, bom ou ruim era do gosto do consumidor! Outros tempos... Eu vou contar a minha versão:

Brasil e Argentina - um antigo país vizinho - disputavam a última partida daquele torneio. O argentino Lionel Messi fez o seu terceiro gol no jogo, o quarto da Argentina. Dizem que era uma diferença grande no placar. Não marcamos pontos. Digo, gols... Eles venceram! Ao redor da recém chamada arena, estavam milhares dos seus conterrâneos. Brasileiros, éramos minoria na nossa própria casa. O MASI – Movimento Argentinos Sem Ingresso - cercou o local da peleja e, ao final, invadiu. Os nossos compatriotas-espectadores foram atacados dentro do nosso estádio. Além de perdedores, éramos reféns em casa! Assim, a derrota transformou o campo de jogo em campo de batalha. Nossos meios de defesa eram alguns policiais desprestigiados.

À época, os black blocks eram apenas um grupo manifestante que adotava práticas agressivas. Eles protestavam contra a Copa pelos arredores durante a partida, quando transformaram-se na nossa única esperança de defesa. Até a polícia deu os seus cascudos nos invasores e foi aplaudida como nunca antes neste país! Honra lavada com sangue, surgia o nosso nacional-imperialismo tardio. Era um movimento pela revanche, na bola ou na guerra!

O Comando Militar do Leste enviou tropas para retomar o enclave rebelde da Armação de Búzios. Descobriu-se que o nome do balneário remete-se a Don Diego Armando Maradona. Simultaneamente, o Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha de Guerra do Brasil preparava o desembarque na cidade de Florianópolis. Derrota no campo de jogo, vitória no campo de batalha. Ato contínuo, em retaliação, o Brasil explode a Usina de Itaipú, quando a Comandante em Chefe declarou em rede nacional: “agora posso fazer racionamento sem perder a eleição e ainda alagaremos Buenos Aires!” E assim foi feito seu último ato.

Los Hermanos (não apenas a banda!) reconheceram os poderes divinos de Messi, que foi aclamado Rei em Buenos Aires, em sucessão a Don Maradona I. A coroação aconteceu num grande churrasco nacional, uma semana depois do jogo decisivo.  A data foi proclamada como feriado mundial, aceito apenas pelos comedores de alfajor às margens do Rio da Prata. Em inusitada solidariedade, a Banda Oriental, aderiu anos depois.

Não! Os black block não venceram eleições. Eles foram recebidos na sede do governo e lá informaram que “vieram pra ficar”. E assim foi feito. Ninguém reclamou. Num país carente de heróis, ficava deselegante falar mal dos nossos protetores... As Forças Armadas e as tropas auxiliares foram extintas no aniversário de 1 ano do movimento, para deleite de anarquistas e afins. A Defesa Nacional passou a ser responsabilidade dos movimentos anti-sociais. A partir de então, é conveniente observar a agenda dos manifestantes antes de programar a sua. Eu diria que é informação mais importante que a previsão do tempo.

Trim-Trim-Trim! Hã? Onde estou? Ufa... Que pesadelo... Dizem que o próprio Maradona sofreu problema semelhante ao meu, depois de tomar muito guaraná... Por precaução, vou evitar comer empanadas até o final da Copa! Refeito do terrível susto, defendo: não quero jogar uma final contra a Argentina. Não vale o risco. Em caso de vitória, apenas cumprimos nossa obrigação patriótica. Em caso de derrota, nunca teremos chance de revanche (na bola).