A motivação

07/03/2013 15:23

Muitos amigos e colegas, participantes ou não das tradicionais provas de 5 ou 10 km do Aterro, sempre me perguntam: “e aí, Alvaro, qual a próxima corrida? Alguma maratona? Quais são os planos pra 2013?” A maioria já aprendeu que maratona tem distância padrão de 42,195 km e que isso é bastante. Do Recreio ao Aterro é uma excelente referência para cariocas... Atualmente tenho especial cautela na resposta. Fico meio tímido de explicar e digo apenas que “vou participar de uma corrida famosa na África do Sul” e que “não é a mesma de 2012”. Falo que “é maior que uma maratona”, sem especificar que é maior que DUAS maratonas! Se o interlocutor fica interessado e pergunta mais detalhes, informo que predominam subidas. Serão exatamente 54 milhas, o que significa 86,96 km.

Em abril de 2012, eu estava preparado para ultrapassar a distância da Maratona. O cenário era a Cidade do Cabo. Com a linha de chegada 56 km depois da largada, julgava estar próximo de um grande feito. O comentário constante dos corredores locais era: “ah, legal. Depois pode treinar mais e fazer a Comrades.” Depois de ouvir isso, com pequenas variações, pela terceira ou quarta vez, entendi. O pessoal considera a Two Oceans Marathon uma preparação, um primeiro degrau. Eu era um adolescente que me considerava adulto!

Se você não é corredor, provavelmente não entenderá meus argumentos. Serei facilmente classificado como “louco”, na melhor das hipóteses. Difícil argumentar contra, assumo. Por ora, busco traduzir a motivação para participar de uma prova de quase 90 km com subidas e descidas constantes. O navegador Amyr Klink rejeita radicalmente o rótulo de aventureiro. Ele argumenta que faz rigoroso planejamento, avalia riscos e define estratégias. Faz expedições, não aventuras.

Preparação é a diferença entre o maluco e o ousado. Não há garantia de resultado positivo, mas é sua melhor chance. Como diz uma grande inspiração do mundo das corridas, Forrest Gump, “idiota é que faz idiotice”. E muito treino antes de um teste difícil não se encaixa na definição. O treinamento será duro. Longões com mais de 50km, mais de 60 km... UFA! Ah, incluindo muitas subidas, claro... Quando eu estiver entre os 18.000 na linha de largada da mais famosa ultramaratona do mundo, em Durban, no próximo dia 02 de junho, serei um corredor muito preparado, apenas cumprindo a última etapa de um longo planejamento.

Ousar fazer algo difícil é aproveitar as melhores coisas da vida. O limite é medida individual. Pode ser 10 km, a meia ou a maratona inteira, a Comrades ou mais de 500k na floresta amazônica como faz o ultramatonista Márcio Villar. No momento, o meu desafio é o trajeto de Durban a Pietermaritzburg. Respeitar a distância é fundamental. Como em qualquer corrida longa, o primeiro objetivo é chegar. Como debutante, não penso em tempo final. Dor em alguma medida é esperado, mas quero finalizar sem contusões. Mancar no dia – ou na semana! – seguinte é o preço que se paga. Loucura... é viver e morrer numa vida ordinária. Na vida de qualquer mortal, predominam os momentos e os feitos comuns, padronizados. Os limites – que nos colocamos e que recebemos - nos acompanham do berço ao caixão. Ousar superar alguns ao longo da vida pode não fazer muito bem para articulações em geral se você é corredor, mas é ótimo para a alma. Como diria o economista, tempo é um recurso escasso que tem fins alternativos. Use bem o seu! Viva intensamente.

Em março-abril de 2012 eu fiz 3 maratonas e os 56 km na Cidade do Cabo em 22 dias. Foram 4 países e 3 continentes, desafios físico, mental e ... logístico! O corpo estava cansado, mas a cabeça motivada como nunca. Quando estava finalizando meu vídeo sobre a ultramaratona, decidi incluir uma referência da Comrades. Funcionou como um lembrete motivacional. Indiretamente, era a minha inscrição.  https://www.youtube.com/watch?v=iiZLy53f8ZA

Chegou a hora, é a oportunidade. Tenho tempo, saúde, dinheiro e motivação para a empreitada. Reunidos os principais elementos, é aproveitar o momento. Às vezes, precisamos esquecer o quadrado e tentar o extraordinário. Farei o melhor possível para chegar, tenho o limite de 12h para isso. Sucesso? Espero que sim... Mas o maior fracasso é não tentar. A corrida é feita com os pés no chão e a diferença em relação à caminhada é que correndo, eles podem se descolar do solo. Tenha metas e objetivos, mas não deixe de sonhar. Guardamos apenas nossas lembranças, nossas realizações. Escolha bem como usar o tempo. Aproveite o dia!