10 X 42.195m

02/10/2012 11:45

São muitos os motivos que transformam sedentários em corredores. Uns começaram ao acaso, outros por saúde. Muitos foram influenciados por amigos ou parentes. Cada maratonista tem a sua história. Minha relação com a corrida não é convencional. Talvez seja muito diferente da maioria... Nunca fui sedentário, não se trata disso. Sempre gostei muito de esportes, começando pelo futebol e passando pela maioria das modalidades olímpicas. Lembro do equatoriano Rolando Vera na São Silvestre. Ele venceu de 1986 a 1989. Então, eu tinha no máximo 8 anos de idade! Não é toda criança que sabe que maratona tem 42,195 km. Ou pior, não é toda criança que pensa em completar uma no futuro! Assistindo aos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992,  já sabia o que me aguardava.

Para se proclamar “maratonista”, basta completar a distância ao menos uma vez. Minha iniciação foi dolorosa e muito comemorada, ainda em maio de 2010. Fiquei muito feliz, entretanto ainda não me sentia parte daquele grupo. A minha idéia era simples: eu me assumiria “maratonista pleno” depois de 10 anos correndo ou de completar 10 maratonas. O que acontecesse primeiro! A atividade deveria estar profundamente ligada à minha vida, não poderia ser um desafio pontual e passageiro. Numa conta razoável de uma prova ao ano, as duas condições poderiam ser simultâneas.

Em 2011, completei 3 maratonas, totalizando 4 na vida. O mundo deu voltas, a minha vida também. Em 2012, a corrida foi promovida da categoria de hobby e ganhou status de atividade prioritária. Que meu chefe não leia isso! Bom, mesmo que algum colega me “denuncie”, acho que não será grande surpresa para ele...

No último domingo, dia 30/09, completei minha 10ª maratona. O objetivo de longo prazo, a concluir provavelmente depois de 5 ou 6 anos, foi atingido em 28 meses!! Aconteceu na belíssima Foz do Iguaçu, entre a Usina de Itaipú e o Parque das Cataratas. Foi a 6ª vez na distância em 2012. Um conselho prudente, racional, seria dizer: “não recomendo que você faça tantas maratonas em seqüência!” Mas não seria verdadeiro. Todas as corridas foram experiências fantásticas, cada uma com a sua história. Cada maratona é um capítulo especial na minha história de corredor. Ah, nenhum treinador foi irresponsável o suficiente para me orientar nessa empreitada. A ausência de contusões também demonstra que equilibrei razão, emoção e muito treino.

Fiz boas amizades em Foz do Iguaçu. Ainda no desembarque, no aeroporto, conheci o simpático Souza e o competitivo Zacarioto, vencedor na categoria acima de 70 anos. Por conta de uma contusão que o impediu de treinar bem, teve queda no rendimento e não conseguiu fechar sub 3h 30 (!). Mas manteve o título com sobras!

Frio, vento e chuva ocasional na véspera. Os roncos no quarto compartilhado no albergue facilitaram a tarefa de levantar às 4:30. A lua ainda se exibia alto no céu quando entramos no ônibus, rumo à largada. Sem menosprezar os momentos finais, gosto muito da partida. Da expectativa, dos primeiros passos, da sensação de estar pronto para o desafio. Chegamos ao final com a missão cumprida. Iniciamos com a página em branco, com a história a construir. Era um dia muito especial. Além do simbolismo da marca de dois dígitos, encontrei e tirei uma foto com Vanderlei Cordeiro de Lima, sujeito que considero meu ídolo.

Pernas e espírito preparados, alinhados na linha de largada. Como aconteceu na minha primeira corrida de rua, meu pulso não exibia um relógio. Gostei muito da “estratégia” e penso em adotar como rotina, ao menos para maratonas! Tempo final sub 4h era uma referência razoável. As subidas e descidas eram constantes e eu não buscava o esforço máximo.

O número total de participantes é baixo, mas a generosa premiação nas categorias de idade e a altimetria selecionam o grupo. Não é uma prova recomendada para estréias, por exemplo. E para quem acha expressiva a minha marca de 10 maratonas, conheci alguns com mais de 60 anos de idade e quantidade ainda maior de maratonas concluídas.

Largamos ao lado do vertedouro da hidrelétrica. Passamos pelo centro da cidade e seguimos o caminho do aeroporto, rumo às famosas cataratas. Na prova, conheci o Diogo “Norris”, que corria com a foto do famoso Chuck como motivação. A estrutura da prova é impecável, padrão sul-africano. Ou seja: comida, água, isotônico e refrigerante (!), incentivo... Banheiro químico quase a cada 3 km! Conheço um tal de Marco Barcelos que ia se esbaldar! Na alimentação.... Os 11 quilômetros finais são dentro do parque, com suaves subidas e descidas. A chegada é ao lado do famoso cartão-postal, que dispensa apresentações e comentários.

Agradeço aos meus colegas de Chão do Aterro: Lourenço, Denise e Ranulfo, parceiros nessa empreitada. “Uma maratona para quem gosta de maratona!” na perfeita definição do Lourenço. Todos se surpreendem quando digo que, excluída a “emoção de debutante” da primeira conquista dos 42,195 km, a de Foz do Iguaçu tornou-se, de imediato, a predileta. Fiz simultaneamente um belíssimo passeio e um ótimo treino. Estou mais confiante para meu próximo desafio, que inclui dunas e trilhas. Um dia volto para acelerar naquelas montanhas do Oeste paranaense! A próxima maratona? Dia 18/11, em Curitiba!