19kg e 21km em 5 meses. A saga da primeira Meia Maratona - Depoimento de Alberto Rogers
Segue relato bastante tardio da Meia Maratona Internacional. Talvez um pouco atrasado, em contraste com a pressa para completar a distância. Mas penso que não há prazo definido para contar boas histórias.
Fazia pouco tempo que me dedicava às corridas de rua. A Meia Maratona Internacional do Rio seria a primeira prova na distância. Desde os primeiros quilômetros, lá se foram praticamente 1kg/km. Explico: ao longo de 5 meses de corrida, perdi 19 kg. Antes das primeiras passadas, um grande estímulo foi a aquisição de uma balança sofisticada. Minha esposa reclamava que não perdia peso, mesmo com muito ginástica. A troca de gordura por massa muscular não alterava o ponteiro, o que era desestimulante. Então, compro uma balança que indica o percentual de gordura. A melhora do indicador era a injeção de ânimo. De partida, de 30 a 35% da minha massa era composta de gordura...
Seguindo o roteiro para reiniciação esportiva de um sedentário que passou dos 40 anos de idade, realizo todos os exames cardiológicos possíveis e imagináveis. Imagem, sangue, teste ergométrico.... Nos resultados, colesterol ruim alto, bom baixo. Combinação péssima.... Nas refeições, muitos gramas a menos no prato, sem mudanças radicais do conteúdo. Comida japonesa com alguma freqüência e barrinhas de cereal ao longo do dia para moderar o apetite. Essa foi a receita. Segui as tradicionais orientações dos nutricionistas. Estava longe dos tempos de remador, quando completei a volta na lagoa em inacreditáveis 29 minutos e meio! Tenho testemunhas, hein! Mais de 20 anos depois e com 20 quilos extras, meu desempenho me colocava, aos poucos, na rota de retorno.
Da caminhada passei à corrida e a distância progredia. Inicialmente 3, depois 4 ... 5 km! Primeiro correndo aleatoriamente, usando e abusando da esteira comunitária do prédio. Já podia me considerar um corredor, ainda que iniciante e lento. Pace de 6:30 (min/km). Os andares no trabalho eram alcançados pela escada.
Minha primeira corrida de rua foi o Circuito Rio Antigo, dia 12 de junho. Agradeço especialmente ao pessoal da entrega do kit. Esclareço: meu amigo e ghost writer fez a minha inscrição e foi buscar meu material, mas não tinha cópia do meu documento. Depois de muito papo, acreditaram que ele não estava em busca de camisetas extras. Agradeço! Completar aqueles 5km de mãos dadas com a minha esposa, no dia dos namorados, fez de mim um corredor motivado. O sonho da maratona era possível, uma questão de tempo!
Meu objetivo de longo prazo é correr 42.195m ao menos uma vez na vida. Não penso em me tornar maratonista assíduo, mas quero colocar uma medalha dessas no pescoço. Aproveito a estrutura e o apoio do grupo de corrida e caminhada da empresa onde trabalho. Eles ajudaram um amigo a cumprir a mesma meta. Busco o sucesso semelhante.
Como todo treinador, o meu era bastante conservador. Especialmente comigo! Que injustiça.... hehehehe Colocar como fato consumado a participação na Meia Maratona foi a única maneira de convencimento. “Já tô inscrito, pode me ajudar a minimizar os problemas?” E o treinador, que com justiça poderia ser indicado para canonização, fazia o possível. Ou o impossível, com um aluno tão rebelde... Sim, completar 10 km em exatos 50 minutos pouco tempo antes era minha auto-credencial pessoal para aumentar a distância. A preparação inicial, com foco nos 21km, seguia um padrão rigoroso. Tudo que o treinador prescrevia era feito com cuidado. Distância e velocidade realizadas sempre foram maiores, nunca as indicadas. Essa foi a regra. Por favor, não tentem fazer isso em casa! E, se fizerem, não me responsabilizem!
Chegamos ao dia da corrida. Acordo 6:30, táxi 7:15 e 7:40 estou em São Conrado. Acabo conhecendo o Marcos, que também era debutante aquele dia. Trocamos motivações. Ele corria em homenagem à filha Beatriz, que tinha apenas alguns meses, após anos de tentativas. Explico detalhes do trajeto, em especial o retorno no Aterro. Compro alguns saches de carboidrato que havia esquecido e rumamos para a largada. A espera, no aperto, duraria ainda 80 minutos. Pouco antes da largada, tenho que visitar o banheiro químico. Não se tratava de convite, o comparecimento era compulsório. Na volta, vejo uma cena insólita: uma colega corredora resolve aliviar a bexiga ali mesmo... “¿Qué pasa?!” exclama, com surpresa, uma argentina.
Largada! Motivação máxima, completo o 1º quilômetro em rápidos 4:15! Ajusto a velocidade gradativamente, buscando encaixar algo entre 5:00 e 5:30. Em Ipanema, reencontro o Marcos. Trocamos apenas algumas palavras e ele abre distância. Aterro do Flamengo, reta final. O Marcos aparece novamente.“Pela sua Beatriz e pelas minhas filhas Juliana e Letícia”, exclamo! Com as filhas na cabeça, atacamos juntos os últimos quilômetros. Fôlego e pernas em ótimas condições. As passadas seguiam a velocidade imposta pelo coração; acelerado, prestes a escapar pela boca.
Finalizo em exatamente 1h48min. Aliás, tempos cravados, sem espaço para segundos, parece virar marca registrada... Abraço final no Marcos e cada um segue seu rumo. Com ousadia, competência e alguma cara de pau em relação ao treinador, posso me considerar meio maratonista! Não recomendo seguir minha estratégia intempestiva, mas deu certo! Vencedor, encontro minha esposa, que me aguarda com saches de carboidrato e barras de proteína.
História protagonizada por Alberto Rogers e contada por Alvaro Reis, que acompanhou todos os passos.