O politicamente correto no futebol – Parte I

29/07/2011 13:18

De partida, quero esclarecer o que penso sobre Luís Felipe Scolari. Treinador muito vitorioso em clubes e seleções, comandou grande conquista em Copa do Mundo, o que é excelente currículo. Títulos nacionais e estaduais, Libertadores da América e quase um Mundial de Clubes. Arma times excelentes. Isso todos sabem e dispensa maiores argumentações. O estilo, por vezes truculento, conquista muitos fãs, mas não me incluo no grupo. Prefiro o estilo Bernardinho. Por dois episódios, já antigos, nunca defenderei o comportamento agressivo do treinador gaúcho.

No primeiro, ele estava no comando do super campeão time do Grêmio. Eficiência, garra e gols de cabeça de Jardel. No rubro negro carioca, Sávio lembrava os tempos do ponta esquerda de ofício e colecionava contusões, em conseqüência da violência adversária. Felipão foi flagrado pelas rádios cariocas mandando “quebrar” o então destaque rubro negro e destacando a fragilidade física do jogador. Intimidar para vencer. Ouvi, certa vez, declaração do Zico sobre o tema botinada. O ídolo do Flamengo disse que o único treinador que o comandou que não pedia para fazer faltas foi Telê Santana. Faz sentido.... Mas não conheço a orientação do agora treinador Zico nesse ponto. A infração está prevista no jogo, no esporte, violência não. Penso que mandar “parar a jogada” não significa agressão física. Embora falta não seja sinônimo de violência, muitas vezes podem ser colocadas no mesmo saco. 

Tempos depois, Felipão no comando do Palmeiras e Edílson como atacante do Corinthians, se não me falha a memória dos detalhes. A imprensa gravou uma declaração do treinador para os seus jogadores. A forma foi incorreta, estilo espionagem de vestiário. O conteúdo, eu lembro bem: “Cadê o meu jogador, que não provoca ele, que não cospe na cara dele.” Nova vergonha, que dispensa maiores comentários.

A introdução e as citações são credenciais claras de que não sou defensor do treinador, mas nem sempre ele está errado! Copa do Brasil de 2011, Coritiba vs Palmeiras. Felipão novamente no time do Palestra Itália. O time paranaense, após amargar queda para a segunda divisão no Campeonato Brasileiro de 2009, com ato final de violência extrema em seus domínios, conquista a vaga de retorno no ano seguinte, vence o seu estadual em 2011 de forma arrasadora e segue uma seqüência absolutamente impressionante de mais de 20 vitórias seguidas e outros vários jogos sem derrotas. Antes do confronto entre paulistas e paranaenses, Felipão relativiza a fase adversária e diz que foi construída com adversários mais fracos. Sou carioca bastante atípico e, estritamente no futebol, mantenho alguma rivalidade com os paulistas. Entretanto, considero o campeonato deles muito mais disputado e com times melhores. Acho que o melhor argumento em defesa do meu ponto de vista é a quantidade de times na primeira divisão do campeonato nacional. Os últimos torneios vencidos pelos cariocas - Flamengo (Brasileirão - 2009), Fluminense (Brasileirão 2010) e Vasco (Copa do Brasil 2011) – podem enfraquecer meus argumentos, mas mantenho minha convicção. O placar do jogo, 6 a 0 Coritiba poderia ser uma prova definitiva de que estou errado, entretanto meu ponto-chave é o seguinte: falar que um campeonato tem times melhores que outro é ofensa? Seria uma transgressão ao manual de conduta politicamente correto? Considero grande exagero. Agora não se fala “time pequeno” – e não incluo o Coritiba no grupo! – o eufemismo é “time de menor investimento”. Ao menos na frente das câmeras...

Escrevo ainda antes do desfecho acerca do destino final do atacante Kléber, jogador do Palmeiras, desejado pelo Flamengo. Se completar 7 jogos com a camisa verde, poderá vestir a rubro negra apenas em 2012. Pouco antes disso, sofreu uma contusão e, segundo os médicos do seu atual clube, já tem condições de jogo. Convocado para a partida, alegou dores, em busca de uma dispensa clínica. A princípio e de acordo com as informações disponíveis, a postura do Felipão é adequada, quis escalar o melhor time. Não são públicos todos os interesses de parte a parte, mas a situação certamente passa longe da prática ética. Muito além do politicamente correto. Espero não ser surpreendido com um papel protagonista de fomento do meu time nesse caso.

O politicamente correto no futebol revela duas abordagens, uma com os microfones ligados, outra com eles desligados. Paradoxalmente, poucas coisas podem ser tão incorretas.

Esse tema é bastante amplo e será abordado novamente. Até mais!