Temporários na Caserna

21/07/2011 13:34

O Brasil incluiu, temporariamente, muitos atletas em suas Forças Armadas para a disputa dos Jogos Mundiais Militares. Enfatizo que não sei responder se outros países igualmente adotam a prática de incorporar atletas profissionais aos seus quartéis. Acredito que existam casos isolados, mas penso que não seja uma prática generalizada. Palpite meu, não consegui fonte segura sobre o tema.

Lembro dos Jogos Olímpicos, quando duplas de vôlei de praia nascidas no Brasil se naturalizaram georgianas (!) para a disputa do maior evento esportivo. O processo incluía até mesmo uma nova versão dos respectivos nomes! A validade da prática na busca do sonho olímpico é, no mínimo, uma decisão pessoal bastante polêmica. Um sonho incompleto, com jeito de fantasia, de falsificação. Um detalhe interessante daquele episódio é que, durante a disputa nas quadras, Geórgia e Rússia passaram por gravíssima crise político-diplomática que terminou em conflito militar. Em jogo contra uma dupla russa, as brasileiras foram abertamente criticadas pela naturalização oportunista.

De partida, meu interesse no evento em andamento no Rio estava relacionado aos esportes tradicionalmente militares, que, sem dúvidas, eram a grande novidade. Nesse caso, não há vagas para atletas de aluguel. Os Jogos Mundiais Militares deveriam valorizar o desporto, a participação na competição. Como torcedor, gostaria de ver os verdadeiros militares de carreira em ação. Sempre torci muito pelo Jardel Gregório, estrela brasileira do Salto Triplo, favorito nas principais competições internacionais. Agora o novato marinheiro só perde pra ele mesmo... Considero esse “aluguel” uma prática condenável, mesmo que seja lugar comum em outras delegações. Fere, não apenas o espírito da competição, como também a tradicional carreira militar. Vocação e patriotismo, mas se você for bom em esportes, pode reforçar momentaneamente nosso time, em busca de uma posição melhor no quadro de medalhas.

Grandes atletas tiveram carreira militar. O queniano Paul Tergat representou a Força Aérea do Quênia, competindo até mesmo nos Jogos Mundiais Militares. Outro grande exemplo é a “locomotiva tcheca”, o mito das provas de fundo chamado Emil Zatopek, empurrado para o meio militar pela conjuntura política em seu país no período. Pelé jogou futebol pelo Exército brasileiro. Porém, não conheço grande campeão que tenha buscado brecha para disputar medalhas.

Interpreto como um (na verdade, mais um!) mecanismo institucionalizado de burla. O importante sendo apenas a vitória! É admirável que o serviço temporário na caserna não seja alvo de críticas, mas comentado com naturalidade pela imprensa. Considero um “doping burocrático”. Ainda que a conduta do Brasil não seja exemplo isolado, a prática deliberada, ostensiva, do time brasileiro reduziu meu interesse pela nossa participação na competição, mas não tira o brilho do evento. Por fim, tenho uma sugestão: que os atletas tenham um tempo mínimo, prévio, de 5 anos de uso da farda antes das competições.