Viagem ao Centro da Galáxia
Texto de Rodrigo Cabral
Os times de futebol, as galáxias e o espaço-tempo se movem por meio de espirais.
E nós primatas existimos devido à contínua ingestão e expulsão de oxigênio. Tomamos água e
suamos e, quando somos felizes, conseguimos meditar caminhando, transcender
correndo, entrar em alfa acompanhando uma partida de futebol.
Quando somos infelizes nos resta reclamar, xingar, maldizer. A irritação nos
turva o cérebro. Só enxergamos os erros do nosso time. Nossa torcida se volta
contra sua própria crença e, súbito, THE END: queremos matar o pai e
***** a mãe.
Queremos maltratar aquelas cores em movimento, as cores que também nos
constituem. Queremos mandar certo jogador de volta para Argentina ou
quem sabe envelopá-lo para algum confim do sistema solar.
Um passe errado, na hora errada, e viramos megafones. Mesmo que, atônitos,
o grito seja dado por dentro. E aos, 44 do segundo tempo, uma pergunta
cruza a mente: por que eu ando com esse time? Por que deixo meu tempo
brincar com ele, como se fôssemos cachorros?
Interrompendo nossas heresias, o árbitro marca um pênalti contra o Grêmio.
E descubro que o futebol serve para isso mesmo, para testar nossa tolerância,
nossa capacidade de torcer (que no fundo - ou no astral - é uma imensa capacidade
telepática).
Então, aos 45, o goleiro reserva salta como um puma e pega a bola. 0 X 0. Dois olhos
espantados que nos miram desde o centro galático da vida. E do futebol.
Figueirense 0 X 0 Grêmio - Orlando Scarpelli, Florianópolis 20/07/2011
Comentário:
Rodrigo! Muito obrigado pela colaboração! Penso que conseguiu, em poucas palavras, expressar muito bem um comportamento que temos eventualmente ao longo do tempo, especialmente quando torcedor. Com ou sem jogo de futebol.